as horas
pra futura referência.
hoje martelei mais dois roteiros revisando aquele material que mencionei aqui ontem.
as pontas dos dedos estão cansadas mas a cabeça ainda está ativa o bastante pra mais algumas palavras.
meu professor de latim costumava dizer que "o exemplo arrasta", só que isso ele dizia em latim. é assim que estou me sentindo agora. velho, meio queimado já com esse negócio de escrever hqs, mas arrastado pelo exemplo de gente mais nova.
de acordo com a média que calculei de ontem, devo ter digitado aproximadas 3 mil palavras hoje. condensei 4 capítulos em 3. o que antes eram 21 páginas de história hoje são 18. os capítulos agora têm a mesma média de páginas. amanhã quero pegar o 5º original, de 7 páginas e transformar no 4º, revisado, de 6. mais exercício de síntese que isso, impossível.
se tudo der certo devo terminar com material suficiente prum álbum de 60 páginas no lugar das cento e poucas originais.
mais informações conforme novos progressos surgirem. agora é ler e cama.
ok. última tarefa do dia antes de me meter no quarto pra ler e escrever um pouco.
nada demais, certo?
é só uma pergunta retórica, que faço a você, agora com o único objetivo de entreter os velhos neurônios... o princípio é o mesmo do domador no zoológico que lança um bife a um velho leão desdentado.
mas eu respondo.
afinal, não é justo deixá-lo no escuro, já que a retórica não é geral, mas minha.
o motivo é simples.
nada me dá mais prazer que isso.
o binômio ler-escrever. escrevo porque leio. se não lêsse e me pegasse exaltado com as idéias de outras pessoas, não seria capaz de conceber a publicação das minhas, mesmo que as minhas não sejam necessariamente de minha propriedade, mas emprestadas de outros mais sábios e, com um ou dois enfeites, tornadas em minha propriedade exclusiva. até que as publique, claro, e se tornem de todos e o processo recomece.
claro.
no último par de dias estive envolvido em uma colaboração com um outro roteirista muito mais vivaz que eu e os produtos dela estão se empilhando. escrevi com ele um roteiro que foi desafiador em termos técnicos e foi e voltou diversas vezes. se não se tratasse de uma pessoa tão animada é provável que eu desistisse depois da primeira palavra.
e vendo essa animação tomei coragem pra retomar um daqueles projetos de gaveta e reescrevê-lo completamente. a idéia é fazer sempre capítulos curtos, de 6 páginas cada, pra, quem sabe, serializar em algum lugar. hoje transformei dois da versão antiga em um novo. o detalhe é que só o fato de ter as páginas impressas do roteiro anterior nas mãos já serviu de impulso e quase não consultei o original.
coisas da vida.
vamos ver se agora é a hora dessa história.
eu estava agitado demais pra colocar meus pensamentos em ordem.
de qualquer jeito, conversando por g-talk com um amigo, me dei conta do gosto que tenho por determinados autores e descobri o que o material que eles produzem tem que me faz 'clicar!'.
e é bem simples, pra falar a verdade.
é mais ou menos como trabalhar juntos numa colaboração.
na minha cabeça, toda boa história parte desse princípio de cumplicidade entre autor e leitor.
por exemplo, se disse que estava agitado na segunda, foi porque finalmente pus as mãos em mais material de caras assim.
que demandam que o leitor trabalhe com eles. que exigem algum esforço mental por parte de quem lê.
nada de fórmulas e idéias pré-fabricadas.
produção conjunta. uma idéia é lançada, cria raízes e dá frutos.
na pilha de livros a serem lidos agora:
VIMANARAMA, de grant morrison e phillip bond;
A SCANNER DARKLY, do k. dick;
SUDDEN GRAVITY, de greg ruth.
estou no vigésimo lucky do dia, ainda cansado da ida a sampa e, na verdade, não é o vigésimo do dia porque é outro dia, certo?
então hoje foi legal e divertido e terminei a noite há poucos minutos conversando com caras que escrevem, desenham e tudo mais, mas antes de mais nada, são muito gente fina. as maravilhas da tecnologia e assim por diante.
estamos preparando MARRETA pra virar livro virtual. vai dar trabalho revisar tudo e arrumar as cagadas (que partiram de mim) mas deve ficar, pelo menos, divertido de ler. ainda não é um livro de papel, mas consegui fazer mais que um conto. é minha primeira novelinha.
a segunda, IMITAÇÃO, começou a aparecer timidamente mas meio que vem ganhando força na minha cabeça.
além disso soube hoje que duas das minhas hqs recentes estão quase ficando prontas (de uma delas tenho acompanhado o desenvolvimento passo a passo - a outra é um verdadeiro mistério) e HERÓIS começa a se encaminhar nesse sentido também.
hoje vou ser curto porque tô 'no bico do urubu', como dizem por aí.
você não precisa se esforçar muito pra perceber: a)que estou tentando manter os títulos dos posts curtos e b)como minha criatividade anda em baixa.
vou atribuir as duas coisas à inteligência pouco exaltada das férias. verdade seja dita, faz um pouco de falta conviver com a loucura da molecada. o nonsense generalizado de suas vidas e todo esse jazz.
outro dia comecei a falar um pouquinho do zeitgeist estranho que tem surgido mais ou menos ao mesmo tempo no que chamamos de comunidade "criativa".
'zeitgeist', pra quem não sabe, é o espírito do tempo (não confundir com clima, daí seria outro 'geist', alemão pra fantasma, espírito e similares).
segundo alguns estudiosos, mais especifiamente, segundo rupert sheldrake, a mente é um fenômeno que acontece fora do corpo... não confunda mente com cérebro, certo? o cérebro é o hardware e a mente é o software.
gosto dessa idéia porque ela ajuda a explicar um pouco esses fenômenos estranhos de criações simultâneas similares. não confundir com plágio.
a mente, estando fora do corpo e tendo diversas similaridades com o indivíduo ao qual está ligada, é, por sua vez, ligada, conectada a um campo morfogenético que alan moore chamou de 'ideaspace' e que jung definiu como inconsciente.
assim, pessoas diferentes podem acessar esse espaço comum e ter as mesmas idéias ao mesmo tempo, talvez filtrando-as com sua experiência pessoal, com o material que as torna diferentes umas das outras.
swampthing e manthing, personagens da dc e da marvel respectivamente, apareceram quase de modo quase simultâneo nas histórias em quadrinhos. mas o zeitgeit da época era outro. o horror bem orientado e as idéias hippies estavam em voga e assim por diante.
mas quando aparecem coisas como as que vêm aparecendo...
bom, é pra ficar preocupado.
desde quando é um bom exemplo um sujeito que pratica a mortificação da carne pra se autopunir por seus erros passados?
é claro que mais nenhuma criança quer saber de quadrinhos, que os fãs de super-heróis são adultos e tudo mais e, aparentemente, ninguém pensa em formar novos leitores indo pras bases.
é uma pena.
meus planos pro fds são simples e se resumem facilmente em um par de linhas que não estou autorizado a divulgar.
segunda-feira é outra história e deve me pegar em sampa pelo menos na parte da manhã.
hoje estive conversando com dois desenhistas que coincidentemente são meus amigos de longa data. é legal ver esses caras interagindo, trocando experiências, falando dos autores que mais curtem.
foi assim que terminei com uma daquelas perguntas que não fazem sentido pra quem não conhece os quadrinhos dos anos 80 e 90. o que aconteceu com os álbuns especiais e mini-séries que eram produzidos como objetos de arte?
tudo bem.
ainda tem o john bolton que volta e meia desenha uma ogn pra vertigo. kent willians que adaptou THE FOUNTAIN pros quadrinhos há pouco tempo. john j. muth que às vezes faz uma ou outra edição de, sei lá, o produto derivado de sandman da vez ou o especial que ele simplesmente não pode negar por qualquer motivo que seja.
mas, vê só: e o bill sienkiewicz? que se fez dele? o cara agora se contenta em arte-finalizar outros desenhistas? só isso? depois de coisas como ELEKTRA e STRAY TOASTERS?
dave mackean, que muita gente pensou ser um clone de sienkiewicz quando apareceu, hoje em dia dirige filmes de fantasia. esse cara devia ser obrigado a fazer pelo menos uma história em quadrinhos a cada dois anos! ele escreveu e desenhou CAGES que, exceto por SIGNAL TO NOISE, é melhor que qualquer colaboração dele com o gaiman.
eles continuam trabalhando com artes plásticas. dá pra ver material novo da maioria (exceto sienkiewicz) aqui.
pois é. é nisso que dá tomar café com desenhistas.
arte do sr. Leonardo Andrade, um de nossos colaboradores mais freqüentes.